sábado, 19 de maio de 2018
Platão, vida e obra.
Quem foi Platão.
Platão foi escritor e filósofo, nasceu de linhagem ilustre, e teve uma
boa educação, era de respeitada família aristocrática. Viveu por volta de 427 a
374 a. C. E morreu por volta de seus 80, 81 anos. Teve motivação
particularmente por Heráclito e Éfeso.
Durante toda sua juventude, esteve bastante empenhado ao pensamento
pré-socrático, que por sinal foi em seu encontro com Sócrates, originado de
família modesta de artesãos, o ponto máximo do seu aprendizado.
Com o apoio de amigos (financeiramente também) Platão fundou sua própria
escola no Horto de Academos, onde começou a se situar os intelectos mais
brilhantes e talentosos da Grécia, como podemos citar: Aristóteles e Estagira.
Platão deveria dar um exemplo como cidadão, e apesar disso sua oposição
era bastante crítica a democracia ateniense, ele nunca se indispôs juntamente
aos membros do estado ateniense.
Platão era um pensador e que à medida que amadurecia sua reflexão
política certamente mais se revelava como um conservador, que se declarava não
satisfeito com as transformações políticas que aconteciam, definitivamente, a
democracia moderna não o agradava.
Sua obra é inspirada por uma compreensão socrática, pois ele foi
conduzido ao dialogo, de uma forma que a exposição das idéias não eram
solitárias, em que ele se utiliza desse meio socrático.
Por meio de utilização de métodos, Platão desenvolveu e aprimorou seu
próprio método de maneira tão profunda que criou um processo de dialética, que
podemos definir como a arte de buscar o conhecimento pelo diálogo. Então
começou a aplicar esse novo método para a compreensão do pensamento.
Não é à toa que os diálogos cuja autoria é de Platão são aceitas de
forma unanimemente por sábios, estudiosos, escolásticos, filólogos e helenistas.
De forma geral, Platão foi quem desenvolveu uma noção de
que o homem permanece em contato sempre com dois tipos de realidade, a
inteligível, imutável e uma realidade que afeta os sentidos sensíveis dos
indivíduos.
A República perfeita de Platão.
O dialogo da segunda fase do filosofo Platão A República almeja instituir utopicamente um Estado perfeito.
Seu intuito inicial resigna-se em descobrir onde a justiça surge e habita, para isto ele recorre a um longo discurso onde todas as questões são minuciosamente debatidas e definidas.
Em um primeiro momento Sócrates[18] conversa com o ancião Céfalo a respeito da velhice, chegando a conclusões de como o caráter, a riqueza e a bondade facilitam tanto a juventude quanto a velhice do indivíduo. Porem ao abordarem o requisito justiça inicia-se o debate.
Muitas foram as tentativas de definir o que é justiça, Polimarco argumenta que justo é restituir a cada um o que lhe é devido, fazendo bem aos amigos e mau aos inimigos e no tempo de paz utilizar a justiça para nortear os contratos, Trasímaco contudo expõe que justiça é a conveniência do mais forte e Glauco por sua vez afirma que parecer justo e não sê-lo traz mais felicidade porque a justiça reside no meio termo entre o “maior bem, não pagar pelas injustiças e o maior mal, ser incapaz de se vingar de uma injustiça”[19].
Após extenuantes tentativas de entrar em um consenso sobre o assunto em pauta e qual a sua função, Sócrates confessa que não sabe o que é a justiça, portanto não teria argumentos para os convencer de que a justiça é melhor ou pior do que a injustiça e neste ponto começa a descrever a cidade com Adiamanto, sempre em função crescente utilizando a parábola da Placa, valendo-se do argumento de que é mais fácil identificar a justiça no Estado, pois este é grande do que no indivíduo e concluída esta etapa teria apenas o trabalho de comparar e verificar a veracidade dos fatos.
A cidade origina-se na necessidade de indivíduos iguais, porem com diferentes naturezas trabalhistas permitindo assim a especialização do artífice. O homem necessita de mais recursos que o necessário para se sentir feliz isto implica em um crescimento, admissível ate o limite em que a polis se manter unida, após estas especificações iniciais podemos visualizar três categorias de indivíduos, os governantes, os guardiões e os artífices.
Sócrates descreve minuciosamente como a cidade deve ser constituída, descrevendo como os indivíduos devem ser educados segundo a sua função, qual o papel da mulher dentro da sociedade caracterizada por ser igual ao homem ate o exeqüível, o sistema de procriação, os critérios religiosos e através do desempenho acompanhado assiduamente durante a educação para identificar quais dentre a sociedade são dignos de serem governantes advertindo que estes deveriam ser filósofos e maduros.
Constituída a cidade perfeitamente boa esta deverá possuir as quatro virtudes cardeais[20] para se manter unida, Sócrates define então a sabedoria como a virtude presente entre os governantes, a coragem como aspecto necessário aos guerreiros e a sensatez como feitio dos artífices e concluindo a partir do pressuposto que o que restou foi a justiça esta caracteriza-se por harmonizar os elementos da alma com a sabedoria e a injustiça como a desordem.
Concluída a fase inicial, Sócrates comparou o grau de felicidade do justo e do seu modelo governamental correspondente, a aristocracia, e o injusto classificado como tirânico e o seu modelo de estado correlativo. Após analisar levando em consideração os critérios de raciocínio, experiência e conhecimento, chega-se ao consenso de que o justo é mais feliz, pois utiliza estes três critérios com perfeição para discernir o bem e a verdade.
Esta síntese sobre a república de Platão nos remete a uma importante indagação sobre a legitimidade do método utilizado por Platão valendo-se do pressuposto que o indivíduo reage da mesma forma que um estado.
No entanto é impossível negar que os esforços deste filósofo em responder e argumentar todas as indagações dos membros presentes na discussão de forma clara e concisa proporcionou teses no mínimo viáveis e engenhosas. Na próxima parte do trabalho vamos expor os conceitos de alguns renomados autores para esclarecer alguns pontos obscuros sobre o assunto em questão.
Diálogos platônicos.
Maior parte da filosofia platônica fora escrita em forma dramática, o que torna seu estudo menos exaustivo do que o de outros grandes filósofos como Immanuel Kant, Thomas Hobbes e John Locke. Seus textos se desenvolvem de forma lógica, baseando-se na dialética, retórica e argumentação para que finalmente cheguemos às suas conclusões filosóficas.
Em seus diálogos Platão se preocupou em extrair de um conceito inicial seu máximo até obter-se, ou ao menos aproximar-se, a um conceito uno do qual não possam surgir dubiedades. Em sua filosofia são tratados temas tais como a justiça, a natureza, os limites da retórica, o que se entende por conhecimento, caráter e valor do amor sensual. A lista é grande, compõe-se de cerca de trinta textos considerados autênticos.
Podemos dividir seus diálogos em três grupos: diálogos iniciais; diálogos medianos, também chamados de intermediários; e por fim os chamados diálogos tardios, ou últimos diálogos. Os estudiosos da área acreditam que nos diálogos iniciais Platão busca apresentar a filosofia de Sócrates, por isso mesmo este aparece como um personagem. Pode-se citar de exemplo Eutífron, Íon e Críton. Já nos diálogos medianos Platão deixa a doutrina socrática, mesmo sendo Sócrates figura dominante, para então apresentar seus conceitos, incluindo a Teoria das Idéias, são exemplos desse período os textos Banquete e A República. E por fim os diálogos tardios onde Sócrates raramente aparece como figurante e nestes são apresentadas a filosofia de Platão, são expoentes desse período os diálogos Sofista, Timeu e As Leis.
sexta-feira, 18 de maio de 2018
Em busca da verdade perdida
Em
certas ocasiões, quando todas as opressões do mundo contemporâneo parecem
destituir de sentido toda a nossa existência, ficamos a nos perguntar se a
razão da existência do homem, o seu destino, é ser um eterno prisioneiro de
suas crenças, de suas convicções. Até que ponto essas convicções determinam e
delimitam a experiência humana e criam axiomas irrefutáveis? Em que proporção
essas crenças delimitam as nossas ações e decisões? Como o homem pode exercer,
sem culpas, o seu livre-arbítrio (se é que o homem realmente detém este
livre-arbítrio)? São estas e algumas outras questões pertinentes à vida para as
quais o homem não encontra solução e são umas das principais fontes de angústia
e sofrimento humano. Não temos a pretensão de resolver esses dilemas (quem nos
dera!), mas recorreremos a alguns homens do passado que fizeram esta tentativa.
Inicialmente,
recorreremos a Ortega y Gasset. Para ele, a vida humana constitui uma realidade
radical, da qual todas as demais realidades, efetivas ou pressupostas, aparecem
nela. Nossa vida, nós a vivemos porque fazemos coisas; somos obrigados a
cumprir tarefas que são a razão de ser de nossa existência. Porém, estas
tarefas nos são condicionadas por uma série de convicções sobre coisas e
pessoas ao nosso redor. Podemos, então, escolher entre uma ação e outra e,
assim, viver.
A nossa
existência, portanto, é regida pelas nossas crenças; as nossas convicções são
as bases de nossa experiência de vida. A esse conjunto de crenças, Ortega chama
de “repertório”, por se constituírem em um emaranhado que não possui uma
articulação lógica. São, às vezes, incongruentes, contraditórias ou desconexas.
Diferem-se das idéias, que, ao serem pensadas, podem ser descartadas ou não. A
crença é a idéia em que se acredita (e não pode ser descartada). Acreditar não
é mais um mecanismo intelectual, mas uma função para orientar nossa conduta,
nossas tarefas. (ORTEGA Y GASSET, s/d, pp. 27-28).
Então,
o homem que se sente, como a mosca de Nietzsche, o centro do Universo, não
passa de um burro de antolhos?
Segundo
Sigmund Freud, o sofrimento do homem provém de três direções: primeiro, do
próprio corpo, pela decadência e pela ansiedade; em seguida, do mundo externo,
através de uma força de destruição esmagadora; e, finalmente, pelo seu
relacionamento com os outros homens. A pressão externa fez com que o homem
moderasse as suas reivindicações de prazer. Para que o homem pudesse viver em
sociedade teve que abandonar seu extinto de agressividade e abrandar sua
compulsão sexual. A possibilidade de vida comunitária entre os seres humanos
teve, como pressuposto, um conceito duplo: primeiramente a compulsão para o
trabalho, criada pela necessidade externa; em seguida vem o amor, que fez o
homem relutar em privar-se de seu objeto sexual, a mulher; esta, por sua vez,
precisou privar-se daquela parte de si própria que lhe fora separada, o filho.
O amor, então, impõe restrições à civilização, querendo conservar seus membros
juntos a si; ao mesmo tempo, a civilização impõe regras e proibições
restritivas ao amor (uma dessas restrições seria a excitação visual em
detrimento à excitação olfativa do desejo sexual). O argumento de Freud,
portanto, seria de que, para sermos felizes, teríamos que abandonar a civilização.
(FREUD, l978, p. 170).
Então,
tentemos entender: o homem é regido por um conjunto de regras, às vezes
desconexas, mas altamente hierarquizadas e estas mesmas regras, fundamentais
para a sobrevivência do homem na sociedade, é que tornam fonte de sofrimento
para este mesmo homem.
Estamos
sempre a nos perguntar onde está a origem da felicidade. Como conhecer a
essência da verdade, que nos proporcionaria o pleno prazer. Segundo Alexandre
Koyré, essas perguntas foram feitas aos antigos sábios. Sócrates, por exemplo,
fugia às respostas. O seu papel não era emitir opiniões ou formular teorias,
mas examinar os outros homens. Platão conhecia a doutrina de Sócrates, porém, o
modo de exposição desta doutrina não a tornou acessível a todos, não é difícil
imaginarmos que Platão não desejasse esta acessibilidade. (KOYRÉ, 1963, p.15).
Para
Platão, a ciência verdadeira é aquela que emana da alma, do seu próprio
trabalho interior, onde estão as respostas. Para obtermos as respostas é
preciso conhecer o que estamos procurando, pois como saberíamos que encontramos
o que procuramos, se não soubéssemos o que realmente buscamos? (idem, p. 19).
Na verdade, procuramos saber o que já sabemos, ou melhor, “procuramos recordar
um saber esquecido (...). O saber e inato à alma” (idem, p. 20).
A
ciência é a única coisa que pode ser ensinada. A virtude só pode ser ensinada
se for ciência, caso contrário, é impossível. Deve ser por isso que os homens
de Estado puderam governar as cidades com sucesso; porque possuíam a opinião
verdadeira (virtude), no entanto foram incapazes de transmiti-la aos seus
sucessores, talvez por não se tratar de ciência. (idem, p.24).
Devemos
nos perguntar, então, o que entendemos como virtude. Para esta questão devemos
usar o raciocínio correto e não o discurso persuasivo, a simples retórica.
Devemos encarar a virtude como verdade, ou seja, alguma coisa a mais que o
simples sucesso pessoal, conforme pensava Ménon (idem, p.25).
Procurar
a verdade, tentar acordar n’alma a “recordação” do saber é uma tarefa extremamente
difícil; implica esforço. Tem que se buscar a essência e não significações
banais que possam redundar em simplificações de conceitos importantes como, por
exemplo, a virtude. A virtude, como ciência que é, só pode ser ensinada para
quem compreender a sua essência.
Compreender
a essência da verdade, eis a questão pertinente a Platão. Em “A República”, os
homens que estavam no interior da caverna só conseguiam ver as sombras, os
contornos das coisas. Não havia, para eles, o dês-velamento. Este, causava-lhes
dor e estranhamento. O deslumbramento os impedia de fixar os objetos cujas
sombras viam outrora. (v. 515d).
Segundo
esta concepção, todos os homens podem ter o domínio do saber. Nada escapa à
humanidade, todas as imagens, todos os signos, todo o conhecimento, enfim, toda
a verdade não passaria de recordação, do mesmo modo, segundo Salomão, “toda a
novidade não passa de esquecimento”. (MANGUEL, s/d, p.27).
Nietzsche,
no entanto, apesar de seguir uma linha de pensamento semelhante, não parece que
concorde com essa “essência” que transcende as coisas. Segundo o filósofo
alemão, e nos parece válida esta opinião, a verdade não passa de
arbitrariedade. Recordemos suas palavras:
“O que é verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismo, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem, a um povo, sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas.” (NIETZSCHE, s/d, p.56).
Temos,
portanto, algumas proposições a respeito da “realidade do real” e da possibilidade
do homem, através da busca da verdade, atingir a felicidade. A busca da perfeição
e do pleno gozo, eis o ideal de vida da humanidade. Vimos, através deste
pequeno ensaio, variados pontos de vista sobre o assunto; por mais que
busquemos resposta para nossas indagações, no entanto, percebemos que estamos
longe da compreensão e do entendimento que levaria tranqüilidade ao nosso
espírito. Mas não desistamos da luta! Talvez pegando um pouco de cada
ensinamento, pesando aqui e ali, e tentarmos extrair deles a sua substância,
quem sabe reformulando todo o nosso conjunto de crenças e reformularmos o nosso
ideal de vida, e possamos avançar um pouco nesse caminho. É extremamente
difícil, não nos iludamos. O homem, cada vez mais, torna-se obcecado por transformações
políticas e sociais ou por ascensão social, confunde felicidade com melhoria
material; busca respostas através de doutrinações ideológicas, tanto de
esquerda, quanto de direita; substitui a Fé pela Razão e vice-versa. Estamos
longe de obtermos respostas, continuaremos por muito tempo perdidos e confusos
nos nossos dilemas. Mas o que fazer? Fazem parte da própria natureza humana
essas angústias. É isso que torna o homem um ser diferente de todas as demais
espécies vivas do planeta.
Postado por prof. Rusinelson Ribas.
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