Postagem em destaque

Calvin

terça-feira, 19 de junho de 2018

ÉTICA E MORAL


Introdução
Embora sejam usados em conjunto e muitas vezes como sinônimos, os conceitos de ética e moral são diferentes entre si, tanto no que diz respeito ao significado quanto a origem etimológica das palavras.
Ética vem do grego ethos, literalmente significa morada, refúgio. Em termos filosóficos está ligada a modo de ser, caráter, natureza e índole. A palavra moral tem origem no termo latino morales que significa relativo aos costumes, ligado a costumes.
Portanto, a partir da análise etimológica é possível já definir que o conceito de ética  é ligado ao indivíduo, enquanto a moral tem relação com a sociedade.
Mesmo com as diferenças, tanto o conceito de ética quanto o de moral tem finalidade semelhante: construir bases e guias para a conduta do indivíduo, comportamento no meio social em que vive, construção do caráter e virtudes.
Moral
O conceito de moral pode ser definido como um conjunto de regras sociais - dentro de um determinado contexto e de uma determinada sociedade - que definem e norteiam o comportamento e o julgamento dos indivíduos sobre o que é moralmente aceito ou não.
A moral está ligada ao padrão cultural vigente e estabelece regras, determinadas pela própria sociedade, necessárias ao convívio dos indivíduos. Portanto, a moral depende então do momento histórico e da sociedade em que as regras foram estabelecidas.
Ética
A ética, por sua vez, refere-se ao modo de ser de um indivíduo, a natureza, o caráter e a postura adotados diante de uma situação. A moral estabelecida pela sociedade influência na ética do indivíduo. No entanto, o indivíduo pode ser moral, já que está inserido em um contexto social, mas ao mesmo tempo não ter ética, pois as ações que definem a ética são individuais, são uma escolha de cada ser humano.
Em uma explicação mais ampla, a ética pode ser entendida também como o conjunto de conhecimentos sobre o comportamento humano, uma reflexão sobre a moral, sobre a ação das regras morais em cada indivíduo.
Tanto moral quanto ética não nascem com os homens, ambos os conceitos são aprendidos ao longo da vida e chegam aos indivíduos pela família, escola, relações de trabalho, de lazer. Toda estrutura temporal e sócio econômica, influencia portanto, a criação da ética e moral e a maneira como esses conceitos chegam aos indivíduos.


O uso da ética
A moral define prioridade no atendimento de idosos e gestantes, bem como assentos reservados nos transportes coletivos. A frase abaixo exemplifica a atitude de Maria em relação a uma mulher grávida.
  • Maria não cedeu o assento à mulher grávida.
Maria, embora esteja inserida na sociedade em que essa seja a moral estabelecida, não cedeu lugar. A atitude de Maria está ligada à ética, já que foi uma decisão tomada por ela, individualmente.
As regras morais estabelecem, nesse caso, que Maria não teve um comportamento ético. O indivíduo pode ter um comportamento moral, pois está inserido socialmente e por isso, tem conhecimento das regras necessárias para o bom convívio social, no entanto, pode ter ações não éticas.
Embora estejam ligados, não é obrigatório que o indivíduo apresente ao mesmo tempo um comportamento moral e ético.
O uso da moral
O exemplo abaixo exemplifica a moral sobre o uso de uma determinada peça de roupa num determinado período da história.
  • Não era moralmente aceito que mulheres usassem calças no passado, atualmente a peça é usada por homens e mulheres.
As regras sociais definiam apenas o uso de saias para mulheres. Trata-se de uma regra referente ao momento histórico e condições sociais. Atualmente, o uso de calças por mulheres é moralmente aceito, as regras sociais para vestimenta feminina não impedem mais o uso de calças, nem impõe a obrigatoriedade do uso de saias.
Os momentos históricos e contextos sociais, influenciaram, portanto, a criação de regras morais, que foram alteradas com o tempo e com as novas necessidades sociais.


Entendendo Ética e Moral 

Ética
“A ética é um conjunto de conhecimentos que são extraídos da investigação do comportamento humano, ao tentar explicar as regras morais de uma forma racional e científica”. 
Resumindo, ela é uma reflexão da moralidade. A ética nos ajuda a responder perguntas do tipo eu quero? Eu posso? Eu devo?
Se você chegou à conclusão que fazer uma fofoca não é legal, você leva isso para o seu dia a dia e procura agir de forma ética. É comum as pessoas pensarem “não vou me meter, pois é antiético”. 

Moral

Já a moral é um conjunto de regras que são aplicadas ao cotidiano. “É basicamente quando eu transformo a ética numa estrutura escrita e essas normas passam a ser aplicadas e usadas por todo cidadão. Elas orientam o indivíduo, norteando suas ações, seus julgamentos sobre o que é certo e errado”. 
Se muitas pessoas acreditam que fofocar não é legal, com o passar do tempo esse ato entra num consenso geral e estabelece-se que falar dos outros, principalmente no ambiente de trabalho, é imoral. 
Entenderam qual a diferença entre ética e moral? Sendo assim, podemos perceber que a ética tem mais a ver com a questão individual, enquanto a moral trabalha com o processo coletivo. 

 EXERCÍCIOS

 1 – Analise a etimologia das palavras "ética" e "moral".
 2 - Defina o conceito de moral.
 3 - O que são valores morais?
 4 - Defina o conceito de ética.
 5 - O que é ser ético?
 6 - Por que é tão difícil ser ético?
 7 – Quais os valores cultivados em nossa sociedade?
 8 – Quais são os seus valores morais?
 9 – Por que a ética é essencial para que haja equilíbrio em uma sociedade?
 10  – Qual a diferença entre ética e moral?


A FELICIDADE E AS ESCOLHAS: As diferentes posições sobre a felicidade e como ser feliz em meio às escolhas?




           Em nosso cotidiano, ouvimos falar constantemente sobre o tema da felicidade. Muitas pessoas afirmam que desejam ser felizes, que querem alcançar a felicidade, ou que estão infelizes. Isso nos leva a refletir sobre as seguintes questões: a felicidade é um conceito objetivo ou subjetivo? Existe "a" felicidade ou cada um tem seu conceito sobre o que é ser feliz? Frente a estas dúvidas, a tendência é tentar negar a existência da felicidade. Perigosa tentação, pois às vezes é mais fácil negar a felicidade do que aceitar que ela existe e reconhecer que não a possuímos... Estamos frente a uma situação limite... pouco discutida e que quase não é refletida em nosso cotidiano corrido... Você já parou para pensar sobre o que é a felicidade?       Você já se perguntou um dia por que todo mundo a deseja ou acredita na sua existência?

          Desde a Grécia Antiga os filósofos já se ocupavam sobre a questão da felicidade. Em especial, um grande filósofo chamado Aristóteles já postulava importantes considerações sobre esse tema. Segundo ele, todas as coisas que existem tendem para um fim. O homem, por sua vez, também existe para uma finalidade: “ser feliz”. Nesse sentido, Aristóteles constata que existe um grande consenso entre os homens: “todos querem ser felizes”; mas também há um grande descenso entre eles: “O que é a Felicidade?”. Como o próprio autor afirma em sua obra Ética a Nicômaco: “Todos estão de acordo e dizem ser o fim do homem a felicidade e identificam o bem viver e o bem agir com o ser feliz. Diferem, porém, quanto ao que seja a felicidade, o homem limitado não a concebe da mesma forma que o sábio”. Sendo assim, nem todos os homens compreendem a felicidade de maneira semelhante.
          Para resolver esse dilema, Aristóteles afirma que o homem verdadeiramente feliz é aquele que age segundo sua própria natureza, isto é, que age racionalmente e visa ser virtuoso, visto que para esse filósofo grego, a essência do homem é sua razão, pois todos tendem ao saber. Mas qual é de fato a nossa natureza? Muitos dizem que somos seres essencialmente bons, outros dizem que somos naturalmente maus e egoístas.            Mas podemos acreditar também que somos seres inacabados... incompletos... que ao invés de nascerem com uma essência pré-estabelecida, buscam construir esta suposta essência na própria existência, na vida real, no cotidiano. Assim sendo, podemos ser tanto anjos como demônios. Nossa natureza depende de nossas escolhas, e devido a isso, nossa felicidade também dependerá delas.
           É o que afirma o filósofo francês Jean-Paul Sarte em sua obra “O Existencialismo é um Humanismo” : “Se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço é o de pôr todo homem no domínio que ele é, de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens”. Dessa maneira, eliminando uma natureza pré-definida que nos dirá o que é ser feliz, podemos analisar uma outra perspectiva sobre o tema, afirmando que a felicidade se encontra na forma como fazemos nossas escolhas, ou seja, encarando a vida da maneira como ela realmente se apresenta, vivendo-a intensamente com responsabilidade.
          Ora, encarar a vida tal como ela se apresenta não é tarefa fácil. Somos seres jogados na existência e estamos condenados a fazer escolhas. Cada possibilidade de existência assumida significa a renúncia de outro modo de vida. Dessa maneira, podemos acertar ou errar, ganhar ou perder. Tudo depende de nossas escolhas. A angústia é a disposição emocional que nos acompanha neste drama da existência. Como então ser feliz em uma realidade tão dura como essa?
         A felicidade não é uma disposição emocional. Ser feliz não é estar sempre alegre. O sofrimento e a angústia também fazem parte da vida e da própria felicidade. Se tudo na vida fosse só alegria, as pessoas não dariam real valor a felicidade... Às vezes, é preciso chorar para sabermos o quanto é bom sorrir... é preciso sentir saudades para saber o quanto gostamos de alguém... Às vezes, quando temos tudo, nada parece ter valor. A vida é constante movimento, ela é um antes, um durante e um depois. Por isso, devemos viver o momento, sem deixar de olhar para nosso passado e nos projetar para o futuro. Os momentos difíceis são parte integrante da vida e deles não podemos escapar. No entanto, estes momentos são necessários para que possamos valorizar os acontecimentos felizes e encontrarmos a felicidade. É partindo desse ponto de vista, que o filósofo Karl Jaspers ressalta: "Os problemas e conflitos podem ser a fonte de uma derrota, uma limitação para a nossa potencialidade, mas também podem dar lugar a uma maior compreensão da vida e o nascimento de uma unidade que se fortalece com o tempo."
          Frente a estes pontos de vista, esse artigo chega a conclusão de que a felicidade não deve ser entendida como um objetivo ditado por uma essência pré-definida existente no homem, ou como um sentimento. A felicidade pode ser entendida como a própria vida sendo vivida de maneira intensa e responsável nas próprias escolhas do dia-a-dia, seja nas alegrias ou nos sofrimentos, buscando sempre tirar um aprendizado para aquilo que ocorre conosco. Como afirma Erich Fromm: “buscar a felicidade é como caçar borboletas: quanto mais você tenta, mais ela foge. No entanto, se você deixar a borboleta voar e se preocupar com outras coisas, ela pode até pousar em seus ombros”. 

                                                                                                                                        Arnin Braga

Platão, conhecimento e bondade

No grego antigo, várias palavras traduziam distintos aspectos da felicidade. A principal delas era eudaimonia, derivada dos termos eu ("bem-disposto") e daimon ("poder divino"). Trata-se da felicidade entendida como um bem ou poder concedido pelos deuses. Subentendia-se que , para mantê-la, a pessoa  deveria conduzir sua vida de tal maneira a não se indispor com as divindades, para o que era preciso sabedoria. Mesmo assim, ainda corria o risco de perder esse bem ou poder se os deuses assim o desejassem, por qualquer motivo arbitrário.
Isso significa que a felicidade era tida como uma espécie de fortuna ou acaso - enfim, um bem instável que dependia tanto da conduta pessoal, como da boa vontade divina [cf. LAURIOLA, De eudaimonia à felicidade..., Revista Espaço Acadêmico, nº 59].


PLATÃO [427-347 a.C.] - considerado por boa parte dos estudiosos o primeiro grande filósofo ocidental, juntamente com seu mestre, Sócrates - foi um dos principais pensadores gregos a se lançar contra essa instabilidade , em busca de uma felicidade estável, postura que caracterizará de forma marcante a ética eudemonista* grega.

*eudemonista - relativo à felicidade ou que tem a felicidade como valor fundamental ou principal objetivo.

No entendimento de Platão , o mundo material - aquele que percebemos pelos cinco sentidos - é enganoso. Nele tudo é instável e por meio dele não pode haver felicidade. Por isso, para esse filósofo, o caminho da felicidade é o do abandono das ilusões dos sentidos em direção ao mundo das ideias, até alcançar o conhecimento supremo da realidade, correspondente à ideia do bem.



O que isso significa e como devemos agir para alcançar essa condição?

1 - Harmonizar as três almas

Para entender a concepção platônica de felicidade, precisamos compreender primeiramente sua doutrina sobre a alma humana, contida na obra A República. Para Platão, o ser humano é essencialmente alma, que é imortal e existe previamente ao corpo. A união da alma com o corpo é acidental, pois o lugar próprio da alma não é o mundo sensível, e sim o mundo inteligível. A alma se dividiria em três partes:

alma concupiscente - situada no ventre e ligada aos desejos carnais;

alma irascível - situada no peito e vinculada às paixões;

alma racional - situada na cabeça e relacionada ao conhecimento.

A vida feliz de uma pessoa dependeria da devida subordinação e harmonia entre essa três almas. A alma racional regularia a irascível, e esta controlaria a concupiscente, sempre coma a supervisão da parte racional. Há, portanto, uma primazia da parte racional sobre as demais.



Para apoiar essa tarefa, Platão propunha duas práticas:

ginástica - conjunto de exercícios e cuidados físicos por meio dos quais a pessoa aprendia a disciplina e o domínio sobre as inclinações negativas do corpo; e

dialética - método de dialogar praticado por Sócrates pelo qual cada pessoa poderia escender progressivamente do mundo sensível [que Platão considerava ilusório] ao mundo inteligível [que ele considerava verdadeiro].

2 - Conhecer o bem

Por meio dessas práticas - especialmente da dialética - a alma humana penetraria o mundo inteligível, também conhecido como mundo das ideias, e se elevaria sucessivamente, mediante contemplação, das ideias perfeitas, até atingir a ideia suprema, que é a ideia do bem. Para Platão, as ideias perfeitas seriam a realidade verdadeira, e compreendê-las significava, portanto, alcançar o grau máximo de conhecimento.

Por que a supremacia da ideia do bem? Porque o bem, segundo o filósofo, seria a causa de todas as coisas justas e belas que existem, incluindo as outras ideias perfeitas, como justiça, beleza, coragem. Sem o bem não há nenhuma delas, inclusive a ideia perfeita de felicidade [teoria do mundo das ideias].

Em resumo, podemos dizer que, para Platão, a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a dieia do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte fórmula:

conhecimento = bondade = felicidade

As três coisas, quando ocorrem em sua máxima expressão, andariam sempre juntas, mas o caminho partiria do conhecimento.

Além disso, para Platão, a ascensão dialética equivaleria não apenas a uma elevação cognoscitiva [isto é do conhecimento], mas também a uma evolução do ser da pessoa [evolução ontológica]. Simplificando bastante, podemos dizer que aquele que alcança o conhecimento verdadeiro [que culmina com a ideia do bem] torna-se um ser "melhor" em sua essência e, por isso, pode viver mais feliz.



3 - Construir o bem de todos

Platão, no entanto, tinha como motivação fundamental de seu filosofar o âmbito político: para ele, a política era a mais nobre das atividades e de todas as ciências, pois tinha como objeto a pólis [cidade-estado grega] e, portanto, a vida do conjunto dos cidadãos. Por isso, seu projeto político-filosófico visou à construção de uma sociedade justa, isto é, aquela que promovesse o bem de todos [ o bem comum]:

[...] ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar uma única classe eminentemente feliz, mas, tanto quanto possível, toda cidade. De fato, pensávamos que só numa cidade assim encontraríamos a justiça e na cidade pior constituída, a injustiça [...]. Agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-a como um todo [...]. (A República, p. 115-116)

Com esse propósito, em sua obra denominada A República, o filósofo idealizou uma sociedade organizada em torno de três atividades básicas: produção dos bens materiais e de alimentos , defesa da cidade e administração da pólis. Dentro dessa organização, a cada cidadão caberia uma função social (produtor, guerreiro, sábio), e esta seria definida de acordo com sua própria natureza, isto é, a aptidão inata a cada pessoa.
A identificação dessa aptidão natural ou vocação se faia durante o processo educativo. A educação seria igual para todos os jovens. Aqueles que se revelassem os mais sábios seriam destinados à administração pública. E, como os filósofos eram os mais sábios entre os mais sábios [os conhecedores do caminho da felicidade], seriam eles os governantes da cidade.

Dentro dessa organização, conforme concebeu Platão, cada um já seria feliz pelo simples fato de cumprir a função para a qual é mais apto por natureza.